terça-feira, 3 de novembro de 2015


Pensar nos pequenos sob essa perspectiva implica deixá-los fazer escolhas, dar a eles possibilidades de se movimentar livremente, ter um tempo exclusivo com cada um e observá-los. É normal ter dúvidas. "Devo elaborar um cronograma com várias atividades, como o momento da leitura?" "Os bebês sabem brincar?" "Não preciso ensinar nada?" "Se deixá-los sozinhos, eles vão chorar?" "Como organizar a rotina do grupo se cada um dormir em um horário?" 

Não se trata de abandoná-los à mercê de suas vontades, desamparados, e sim de investir em um trabalho que valorize o desenvolvimento da autonomia. Segundo Emmi e sua filha Anna Tardos, atualmente no comando do Instituto Emmi Pikler, apesar de trabalhosa, a abordagem é mais vantajosa e eficiente. No livro Educar os Três Primeiros Anos - A Experiência de Lóczy (96 págs., Ed. Junqueira e Martins, tel. 16/3336-3671, 31 reais), a autora Judit Falk comenta as conclusões dos que trabalhavam no abrigo e viram ser possível os bebês ficarem calmos mesmo sozinhos, já que se sentiam seguros e alvo do afeto dos educadores. "Os funcionários aprenderam que apenas podiam dar alegria, intimidade e segurança durante o tempo que passavam com cada criança individualmente, porque as outras estavam fazendo uma atividade que as deixavam tranquilas, alegres e seguindo sua própria esfera de interesses (...)." 

Para organizar a rotina e o ambiente da creche de modo a respeitar os bebês e contribuir para o desenvolvimento deles, é necessário investir na observação atenta e registrar as descobertas relevantes de cada um. Com base nessas notas, o educador saberá quais são os desafios mais convenientes e úteis a proporcionar mais adiante. No entanto, isso só é possível com mudanças na concepção do tempo e do espaço, da relação com os pequenos e do brincar. 

O ambiente deve ser amplo e seguro e ter poucos móveis. Assim, todos desenvolvem a autonomia e a motricidade. "Os adultos não podem interferir o tempo todo nas explorações das crianças. Elas devem fazê-las cada uma a seu tempo", diz Suzana Soares, especialista em Educação Infantil pelo Instituto Superior de Educação Vera Cruz (ISE). O exercício da autonomia se dá em vários momentos, por exemplo, na escolha do brinquedo e dos alimentos e na definição do tempo investido em cada vivência. Já durante os cuidados, o trato com respeito, a conversa e o olho no olho fazem diferença. 

Confira nas páginas seguintes três creches que têm trabalhado sob essa perspectiva. Nelas, o brincar livre, o relacionamento afetivo singular com o educador, a flexibilidade do tempo e a segurança no espaço estão incorporados à rotina e são premissas para o planejamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário